Nós, homens, somos seres estranhos: passamos metade da vida buscando a mulher ideal e a outra metade procurando desculpas para sair com os amigos, sem que ela fique brava com a gente.
Mulheres, não nos julguem mal. Há algo de infantil em nossa alma que nunca amadurece. Um sentimento de grupo que começa ali no tanque de areia, com quatro ou cinco hominhos cavucando e jogando conversa fora, e jamais se perde. “Que que cê tá fazendo aí, castelo?”. “Não, vulcão. E você?”. “Um túnel”. “Ah, legal. Posso ajudar?”. “Chega aí. Cava desse lado que eu cavo desse, vamos ver se junta”. O futebol de terça à noite, a cerveja domingo à tarde, o boliche ou a pescaria nada mais são do que repetição da mesma cena: quatro ou cinco moleques, sem nenhuma mulher por perto, dedicando-se a alguma tarefa simples e inútil.
Entenda, cara leitora, que não é por machismo que queremos ficar entre os do mesmo gênero, algumas horas por semana. É que a presença feminina sempre nos inibe. Exige seriedade, responsabilidade, maturidade. Diante de uma mulher, não há como não assumirmos nossas inúmeras personas de filhos, maridos, alunos. Por mais a vontade que estejamos, uma parte de nosso ser sempre estará alerta, preocupada em não falar com a boca cheia, não botar mostarda no arros, usar corretamente os pronomes e plurais. Por que é assim? Porque as mulheres são chatas? Nada disso, é porque não queremos fazer feio, queremos impressioná-las bem, escondendo o Homer Simpson que vive em cada um de nós.
Se você for pensar bem, todos os grandes feitos do homem foram desculpas que arrumaram para ficar com os amigos sem que suas mulheres brigassem. Veja as grandes navegações: você nunca achou estranho que os caras saíssem da Península Ibérica e dessem a volta na África atrás de especiarias? É que eles precisavam de uma ótima explicação para se meterem em barcos por meses, só com homens e tonéis de bebida, parando de porto em porto. Voltando carregados de canela, cravo, açafrão e outros, pois é, assim a bronca era um pouquinho menor, em casa.
Mais tarde, Cabral, Pero Vaz e sua turma disseram que iam pras Índias, mas cruzaram o Atlântico, chegaram ao Brasil e encontraram várias índias nuas, “com as vergonhas mui saradinhas”, como escreveu Caminha ao rei. O que fizeram nossos portugueses, para não dar problema, na volta pra casa? Carregaram seus barcos com troncos de uma árvore de onde se extraía uma boa tinta vermelha, para tecidos. Disseram, “olha só, querida, erramos o caminho, voltamos meses após o combinado, mas agora você pode, finalmente, tingir as cortinas da sala”.
Assista Apolo 13 e você vai ver que a ida a Lua foi basicamente a mesma coisa. Um bando de homens construindo um brinquedinho capaz de levar três deles até nosso satélite natural. Fazer o que, lá? Que porra é essa! Ficar sem tomar banho, batendo papo, urinando num saquinho (sem se preocupar em levantar ou abaixar a tampa), comendo só comida industrializada, depois pousar, descer, coletar umas pedras, entrar na nave e voltar pra Terra. É o tanquinho de areia, elevado à milésima potência. E quando a nave falha e a brincadeira ameaça dar em tragédia, qual é a primeira cena que o filme mostra? A esposa de um deles, louca da vida, ligando pra NASA: “o que tá acontecendo ?!”. O cara lá da agência espacial, espécie de líder do tanquinho, diz pra mulher ficar calma, que eles vão dar um jeito naquilo. Então convoca todos os cientistas e, por dias a fio, trabalham sem descanso. Claro. O que estava em jogo ali não era só a vida de três seres humanos, mas a palavra de todos os homens da Terra, quando dizemos que não é para elas se preocuparem ao sairmos, que vamos logo ali, encontrar uns amigos, fazer sei lá que coisa simples e inútil, mas voltamos antes do jantar – com um potinho de canela, suco de pau Brasil, uns peixes da pescaria ou uma pedra da lua.
Não era de se admirar que, com tanto em jogo, os astronautas chegassem vivos.